domingo, 7 de agosto de 2016

24/04/2016 - 22ª Maratona de SP


Se em 2015 meu objetivo na maratona de SP era apenas completar, para reverter uma sequência de dois abandonos (em 2012 e 2014), agora em 2016 o objetivo era correr de forma consistente, algo próximo ao que fiz nas maratonas da Disney e no Rio. Não precisava ser como em Porto Alegre, pois em SP as condições são menos favoráveis, mas um resultado perto de 4h20 estaria de bom tamanho.
Fiz minha inscrição em agosto/2015, para aproveitar o preço mais barato, e também para me comprometer com os treinos. Tentei desafiar o Carlos Hideaki, para que uma disputa virtual ajudasse ambos a se empenhar na preparação, mas meu amigo não fechou o acordo comigo, por motivos particulares.
Em outubro fiquei desempregado, mas ainda não tinha começado os treinos para a maratona. A dificuldade começou em dezembro, quando passei a trabalhar em São Paulo e não tinha mais a conveniência de estar perto de casa (moro em Barueri). Obviamente, o trabalho é mais importante que a corrida, e a prioridade ficou na parte profissional.

Mesmo assim, consegui fazer uma adaptação logística interessante. Comprei uma mochila apropriada para corrida, e passei a levar um par de tênis, shorts e camiseta para o trabalho. Na hora de ir embora, me trocava e voltava para casa correndo. Claro que não percorria os 25km todos correndo. Eu dividi assim: 5,3km do trabalho até a estação Cidade Universitária, onde eu pegava o trem até a estação Barueri, e dali mais 5,4km até em casa.
Não era nem de perto um treino ortodoxo. Eu precisei correr na calçada, parava em semáforos, desviava de carros e pedestres. Também tinha a "quebra" entre uma corrida e outra, enquanto eu me deslocava de trem. Essa pausa, embora não fosse um descanso, ajudava na recuperação, mas também acabava esfriando o corpo. No início eu fiquei cansado, correndo mais de 10km por dia, de 2a a 6a. Mas no fim eu consegui me adaptar e o resultado foi satisfatório.
A partir de janeiro comecei a série de treinos longos aos fins de semana. Participei de duas meias maratonas oficiais, em fevereiro (Yescom, 1h52) e em abril (Corpore, 1h58) e tudo indicava que minha preparação estava indo bem.
O único "porém" estava por conta do clima, com temperaturas bastante elevadas no horário em que a prova seria disputada. Tentei fazer meus treinos longos nesse mesmo horário, para me adaptar e me preparar adequadamente. Senti que o calor era um obstáculo pior que a distância, mas não tinha opção, era necessário enfrentá-lo.
Nas duas últimas semanas antes da prova, reduzi a carga de treinos para chegar bem no dia da maratona. Dentro do possível, não tive nenhum problema na preparação.

A quinta feira anterior ao grande dia foi feriado. Na sexta peguei o kit com tranquilidade. No sábado deixei tudo preparado e combinado para que o domingo fosse o melhor possível. Comi um espaguete "da mama" no Spoleto e fui dormir cedo.
Acordei às 4 da manhã, fiz tudo que precisava, conferi se havia alguma pendência e zarpei para Sampa antes das 5:00. O plano original era chegar à Assembleia Legislativa antes das 6:00, para estacionar o possante ali. Só que acabei chegando muito cedo, antes das 5:30, e o estacionamento estava fechado. Tive que parar o carro numa rua da região, o que iria atrapalhar meus planos.
Paciência. Eu não sabia se a Assembleia iria abrir mais tarde, então não poderia arriscar ficar esperando. Mas, contudo, após deixar o carro estacionado, passei a pé ao lado do estacionamento, e percebi que alguns carros já estavam entrando. Resolvi pegar o meu e estacionei ali também. O plano original estava novamente na linha desejada.
Fiquei um tempo no carro, mas não consegui tirar uma soneca. Fui a pé até um local perto para resolver uma pendência de última hora, e depois fui para a região da largada.
Ainda faltava uma meia hora para a partida, e resolvi pegar a fila do banheiro. Demorou mais do que eu imaginava, mas ainda consegui atingir a área de largada antes do tiro inicial.
Consegui manter minha mente ocupada o suficiente para não ficar ansioso. Agora era a hora de por em prática toda a preparação dos últimos meses. O roteiro já estava visualizado, agora precisava conferir se a execução seria bem realizada.
O começo da prova é bem tumultuado, pois as pessoas não respeitam os ritmos indicados, e a organização não faz a menor questão de resolver esse problema. Sem stress. Consegui controlar o ritmo de forma a não ir nem muito rápido, nem muito devagar.

Logo de cara já percebi na prática uma notícia que ficara sabendo nos dias anteriores: o abastecimento de água seria muito frequente, em média a cada 2km. Com cerca de 20 postos de água previstos, mais 2 postos de água de coco, e mais um de isotônico, a hidratação não deveria ser problema. A torcida era para que tudo pudesse estar o mais gelado possível.
Em provas oficiais eu desligo o auto-lap do GPS, pois as placas nunca batem com o aparelho. Marco manualmente as parciais a cada 3km, mas na primeira oportunidade acabei perdendo por distração. Marquei, então, no quilômetro 4, e depois acertei no 6. Dali em diante não perdi mais nenhuma parcial.
Eu tinha várias estratégias disponíveis. Todas, em geral, começavam com um ritmo entre 5:40 e 5:50 minutos por quilômetro, e depois ficavam mais lentas, batendo 6:00 até 6:10 por km. Se não estivesse tanto calor, acho que conseguiria fechar a maratona facilmente entre 4h15 e 4h20, mas infelizmente não era esse o cenário real. Eu precisava tomar cuidado para não quebrar no final.
Eu não fiquei controlando demais meu ritmo. Fui levando conforme a sensação de esforço, baseado na minha experiência adquirida nos treinos longos. Queria passar a metade da prova perto de 2h05, o que me possibilitaria fazer a segunda parte com tranquilidade, mesmo considerando o calor e o cansaço.
E realmente a primeira metade foi bem tranquila mesmo. O percurso é favorável, a temperatura ainda não estava ruim, o pessoal que corre as 15 milhas acaba ajudando a manter um ritmo bom. Passei a marca de 21km com 2h00 sem sofrimento, com segurança e sentindo que ainda tinha força suficiente para o que vinha pela frente.

O caldo entorna mesmo quando passamos pela chegada das 15 milhas. Não fiquei com a menor vontade de parar (o que tinha sido minha desgraça em 2012 e 2014). Passei firme, mas sabia que a Avenida Escola Politécnica era um trecho chato a ser superado. Praticamente sem sombra, é o primeiro momento realmente duro dentro da maratona.
Sabendo disso, fui controlando bem o ritmo e a motivação. Não me preocupei se aquele trecho fosse mais lento, inclusive porque até ali eu estava mais rápido que o planejado. Consegui superar essa parte sem problema e entramos novamente na USP.
Um pouco adiante, logo após a marca de 28km, pela minha programação estava na hora de tomar um sachê de gel carboidrato (que eu estava tomando a cada 7km). Vi à frente umas mesas onde estava escrito "água/water", abri o gel e comecei a tomar (pois preciso tomar água logo após o gel). Só que, ao invés de água, estavam distribuindo batata cozida. Foi um pequeno golpe no meu planejamento. Acabei dando uma andada, para acabar de tomar o gel devagarinho, e logo em seguida retomei a corrida normal, torcendo para ter um posto de água adiante.
Apesar do contratempo, continuei em um ritmo bom. Estava um pouco mais lento que o trecho antes da Politécnica, mas ainda era um ritmo dentro do planejado. Era normal, aceitável, reduzir o ritmo conforme a distância percorrida aumentasse, por conta do cansaço e do calor.
Perto dos 30km tomei um plasil para não sentir o mal estar que tive em 2015. Tomei a segunda garrafa de água de coco e continuei o percurso pela Cidade Universitária. Por alguns momentos fui acompanhando 3 corredores com a camiseta "In God we trust", do "Bola Runners" (imagino que seja da igreja Bola de Neve). Quando saímos da USP comecei a sentir que não ia conseguir acompanhar o grupo. Comecei a fraquejar tanto fisicamente como também na parte motivacional. Na marca de 34km comecei a andar.

Não sabia ao certo qual era o problema. Não era o mal estar do ano anterior. Agora, com calma, avalio que pode ter sido um efeito colateral do plasil que tomei, normalmente denominado e identificado como "sono". Mas na hora eu não percebi. Eu não estava sentindo dor, e o cansaço estava suportável. Mas tinha uma sensação anormal, um desânimo que raramente vivencio e não estava preparado para isso.
De qualquer forma, segui em frente, andando mesmo. Cheguei ao absurdo de pensar na possibilidade de pegar uma bicicleta ou mesmo um táxi/uber. Mesmo andando, não sentia que estava me recuperando. Estava perdendo as esperanças de voltar para a prova. Para piorar, quanto mais eu caminhava, mais tempo ficava debaixo do Sol, e iria demorar mais ainda para acabar a prova.
Saindo do túnel que vai do Jóquei à Juscelino, saquei meu celular e liguei para minha filha Beatriz. Avisei que eu estava andando e que ainda ia demorar uns 45 minutos para chegar. Ela estava com a irmã e com meus pais, me esperando próximo à chegada.
Logo após desligar o telefone, passei pela placa de 38km. Pensei que só faltavam mais quatro e resolvi tentar um trotinho. Me senti melhor e continuei naquele passo, o "passo do urubu malandro" (lembrando do Ivo Cantor). Milagrosamente minhas expectativas voltaram. Graças a Deus a situação se reverteu e eu voltei para a prova.
Na saída do último túnel ainda dei uma caminhadinha, e aproveitei para ligar novamente para a Beatriz e avisar que estava chegando em 5 minutos! Voltei ao trote para manter aquela pegada até o fim. Fiquei feliz, reconquistei a determinação, a confiança, o objetivo, o propósito. O tempo perdido foi um prejuízo que não dava mais para recuperar, mas pelo menos consegui ter novamente uma postura positiva.

Passei ao lado do Monumento às Bandeiras ("Empurra") e logo à frente o pessoal afunilou a avenida fazendo quase um "corredor polonês" (sem trocadilhos). Fiquei atento em localizar meus pais e filhas, o que consegui identificar pelos pulos frenéticos da minha mãe-fã.
Minhas filhas se juntaram a mim para fazermos (mais) uma chegada emocionante. Elas correram comigo todo o último trecho, e chegamos de mãos dadas, comemorando essa conquista.
Fechei a prova na casa de 4h38. Foi bem mais lento que o planejado. Por outro lado, foi bem melhor que o ano anterior, em condições climáticas piores. Ou seja, ainda posso fazer uma apresentação melhor na minha cidade natal. Vamos ver se em 2017 eu me preparo melhor e, se a prova voltar para maio, o clima pode favorecer para que eu atinja minha meta de algo na casa de 4h15.
Agradeço aos meus pais pelo apoio, não apenas na torcida, mas também pela logística que proporcionou minha chegada com as filhas.
Agradeço também a todos amigos que são uma grande fonte de motivação e alegria.
Agradeço acima de tudo a Deus, que reverte situações inimagináveis de forma criativa e perfeita.
No final de julho tenho outra maratona agendada, a da Asics, também em SP. Vou tirar um tempo para me recuperar dessa que corri, e depois retomo os treinos para a próxima.
ua


links para gps
https://www.endomondo.com/users/8052989/workouts/712776711
https://www.strava.com/activities/555662144
https://connect.garmin.com/modern/activity/1140582178
http://www.mapmyfitness.com/workout/1443173603
https://www.nike.com/BR/pt_BR/p/myactivity/activity/0e56c7e9f1b07e29ee4d86eeb8a85b48e8597305074d557f53a5ed74cc8dd9c7

parciais

        t.parc. t.acum  dist
4km 23:37 23:37 4.16
6km 11:17 34:54 2.05
9km 17:00 51:55 3.06
12km 16:55 1:08:50 3.05
15km 17:13 1:26:03 3.10
18km 16:50 1:42:54 2.99
21km 17:31 2:00:25 3.09
24km 17:47 2:18:12 2.98
27km 18:32 2:36:44 3.10
30km 20:01 2:56:45 3.09
33km 19:02 3:15:47 3.01
36km 28:52 3:44:39 3.09
39km 31:07 4:15:46 3.08
42,2km 22:14 4:38:00 3.12

resumo

42.95 km
4:38:00
Pace médio: 6:28/km
Ganho de elevação: 153m
2.613 Kcal
Cadência média: 154
Passada média: 1.00m

Vídeo da chegada:



Notas:
- No sábado fui comprar protetor solar porque o que eu tinha estava acabando. Vi algumas opções resistentes à água, mas por apenas 2 horas. Fucei várias marcas até encontrar um tipo que atendia minha necessidade: um protetor kids, para criança, fator 60, resistente à água por 6 horas. Passei no domingo em abundância e parece que funcionou bem.
- No mesmo dia da maratona de SP foi disputada também a de Londres, mais cedo por causa do fuso horário. Quem sabe algum dia eu esteja lá...
- Acho que minha preparação foi algo entre "boa" e "muito boa". Não pude fazer treinos de ritmo, mas a rodagem foi bem alta, com mais de 1.000km rodados em pouco mais de 3 meses. Eu tinha condição de atingir minha meta de 4h15 a 4h20, mas o calor deixou minha confiança abalada. Parte desse abalo foi em função da prudência, e acho válido. Agora é aguardar que venha outra oportunidade com clima mais favorável.
- Agora fiquei em dúvida sobre a utilização do plasil. Por um lado ajudou a não sentir o mal estar que tive em outras oportunidades, mas por outro lado tenho quase certeza que foi o fator determinante do desânimo após sair da USP. Além disso, o mesmo princípio que me leva a condenar o uso de advil durante a corrida, também poderia ser aplicado no uso do plasil. Estou em conflito nesse assunto.

ua


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