quinta-feira, 20 de junho de 2013

16/06/2013 - 30ª Maratona de Porto Alegre

Mas o título poderia ser: “Alegria sem fim”.
No final de 2012 montei minha planilha de treinos para a Maratona de SP 2013. Os treinos começariam em janeiro, sendo a prova no final de abril. Tudo ia bem, até que em fevereiro a (des)organização avisou sobre o cancelamento (oficialmente, adiamento) da MSP. Foi um golpe duro para mim, mas depois de alguns dias decidi replanejar meus treinos e correr em Porto Alegre.
Não costumo correr muito longe de casa, já tendo sido chamado “carinhosamente” (e corretamente) de bairrista. O custo e a logística, na minha opinião, dificilmente se justificam. Abri uma exceção desta vez.
Procurei me informar sobre a prova e demorei alguns dias antes de oficializar minha participação. Tempo suficiente para que eu não tivesse novamente problema com o adiamento (também) da Maratona de PoA, que passou do dia 9 para o dia 16 de junho.
Durante meus treinos eu percebi uma melhora significativa no meu preparo físico. Tanto que fiz a Meia Maratona Yescom “com sangue nos olhos” para bater meu recorde pessoal, e o tempo foi bem forte para os meus padrões (1h45:30). Várias outras evidências em treinos e provas me indicavam que eu estava bem preparado. Mesmo assim, minha previsão mais otimista para Porto Alegre era algo entre 4h10 e 4h15.
Minha principal referência era minha performance na Maratona Disney 2012, quando fiz 4h20 em condições bastante favoráveis. Poderia ter feito 4h15 se não quebrasse no final. Mas em Porto Alegre eu não esperava tanto frio como na Disney, então um resultado ligeiramente mais rápido já estava de bom tamanho. Mesmo algo ligeiramente mais lento também seria aceitável.

Logo que comecei meus treinos, ainda em janeiro, passei de 80Kg para 75Kg de massa. Isso me aliviou bastante de algumas dores que sentia no joelho. O uso de um novo modelo de tênis, agora um Adidas Duramo que ganhei numa promoção, também foi uma evolução positiva. Infelizmente, nas últimas 2 semanas antes da corrida os treinos diminuem de intensidade, de forma que recuperei 1Kg dos 5 que já tinha perdido. Paciência.
Uma semana antes da viagem, meu foco era não pensar muito na corrida, para não alimentar uma ansiedade desnecessária. Consegui manter um equilíbrio sadio entre os vários assuntos que eu tinha que lidar. O cuidado com o sono e com a saúde também estavam no radar. Tudo para chegar na prova em condições otimizadas.
Tudo pronto para o fim de semana alvo, conferi se estava faltando algum detalhe e pus em andamento o planejamento que havia criado.

Na sexta feira à noite, após arrumar meus pertences, passei algumas orientações às minhas mulheres e fui dormir cedo. Desta vez não daria para elas me acompanharem, a fim de diminuir o custo já elevado da viagem.
No sábado eu acordei cedinho, e saí de casa às 7h em direção a SP. Deixei o possante no prédio dos meus pais, que me levaram de carona até o aeroporto de Congonhas. Sem nenhum incidente que pudesse atrapalhar o percurso, acabei chegando bem cedo e fiquei esperando o horário do voo.
Embarquei no avião da Gol com destino a Porto Alegre bem no horário planejado, gastando cerca de 1h20 até pousarmos em terras gaúchas. Desembarquei apenas com minha bagagem de mão, decisão que havia tomado para evitar qualquer extravio indesejado.
No saguão do aeroporto havia um pessoal da organização que orientava sobre o translado até a retirada de kits. Como já eram 12h, primeiro almocei por ali mesmo para, depois, pegar a van até o Jóquei. O motorista gostava de dirigir “com emoção” rsrs.
Neste ano, pela primeira vez foi realizada uma expo-maratona junto à entrega de kits desta prova. Fiquei por ali algum tempo, conversei com algumas pessoas, e depois fui para o hotel.

Fiquei hospedado no Master Express Cidade Baixa, hotel conveniado da prova, e o quarto que me deram era bem agradável, exceto pelo cheiro de cigarro. Como dispunha de uma pequena geladeira (frigobar), decidi comprar umas bebidas em um supermercado perto. Depois eu assisti ao jogo de estreia do Brasil na Copa das Confederações (Brasil 3x0 Japão) e fiquei pensando se iria ao jantar oferecido por um amigo.
Decidi ir, para socializar um pouco com os corredores da equipe Antílope. Peguei um taxi até o bairro de Santo Antônio e encontrei o pessoal preparando uma macarronada. Eram 19h, e ficamos conversando e ajudando um pouco o cozinheiro no que estava ao nosso alcance. O tempo foi passando e eu fiquei um pouco preocupado com o horário, pois queria dormir cedo. Lá pelas 21h, finalmente começamos a comer. E lá pelas 21:30 eu discretamente chamei um taxi para voltar ao hotel. Acabei dormindo umas 22h, mais tarde que o planejado, mas nada que comprometesse.
A rua do hotel era meio barulhenta, e os pensamentos antes de conseguir dormir poderiam atrapalhar meu descanso, mas graças a Deus eu já aprendi algumas “técnicas” para driblar esse tipo de problema, que ajudam a minimizar qualquer possível insônia.

Acordei às 4:00 e me preparei para começar o grande dia. Na recepção haviam informado que o horário do café era 5:00, mas que poderia ser antecipado para 4:45. Quando questionei sobre 4:30 (horário informado quando eu ainda estava em Barueri), a resposta foi negativa. Mesmo assim eu desci para o refeitório antes das 4:30, e no fim das contas foi este o horário de abertura. Logo o pequeno salão estava lotado de corredores, e fiz uma refeição leve.
Subi ao quarto para os últimos detalhes, e desci para pegar a van até a largada. Pontualmente às 5:30 saímos para mais um percurso “com emoção” (sim, era o mesmo motorista que tinha me pegado no aeroporto).
Chegamos ao Jóquei ainda escuro. Vários jovens saiam da balada, e nós nos preparando para uma prova de resistência. Eu estava com um moletom de capuz, para me proteger do frio de cerca de 10°C. Depois deixaria o agasalho no guarda volumes. Fui ao banheiro fazer o #1 por duas vezes, por conta do frio. Enquanto esperava o tempo passar, tentava identificar algum corredor conhecido, mas nada. Finalmente, quando o dia já estava clareando e o horário de largada se aproximava, encontrei o pessoal da Antílope e ficamos conversando.
As mulheres, que largavam às 7:00, se despediram e foram para a largada. Os homens foram deixar as roupas no guarda volumes, e aproveitei para passar vaselina nas regiões de maior atrito. Alguns colegas foram aquecer, mas eu preferi ficar ali perto do portão principal. Já tínhamos subido para a largada quando eu resolvi fazer um terceiro pipit-stop, com menos de 5 minutos para o início. Na volta, ainda deu tempo de cumprimentar o pessoal e desejar uma boa prova a todos.
Largada pontual às 7:15. Acabei ficando longe dos colegas e fui no meu ritmo, tentando me concentrar na prova e avaliar como eu estava. Qualquer mínimo sinal de ansiedade ou incerteza desapareceu logo nos primeiros quilômetros.

Logo no início eu passei pelo Beto, que corria com um amigo. O Beto é natural de Porto Alegre (atualmente morando em Barueri), e foi um grande anfitrião durante o fim de semana. Infelizmente ele não conseguiu fazer um volume de treinos satisfatório, e teve que ir num ritmo mais lento apenas para acabar a prova.
Lá pelo km 5 eu avistei o Jair (o macarronista) e, um pouco a frente deste, o Marco. Este Marco é, na minha opinião, um corredor melhor e mais rápido que eu. Não me preocupei em alcançá-lo, mas o simples fato de estar em um ritmo parecido com o dele já me alertou que eu estava mais rápido que o planejado. Minha meta original era rodar a 6min/km ou um pouco mais rápido no início, para poder ir mais devagar no final.
O Jair eu passei logo, mas o Marco eu fui diminuindo a distância bem lentamente. Passamos ao lado do estádio Beira Rio, ainda em obras para a Copa 2014. À nossa esquerda, o Rio Guaíba. A manhã de céu claro e ainda sem Sol marcava uma temperatura na casa de 12°C.
Mais adiante passamos pela usina do gasômetro, um prédio de arquitetura antiga e beleza peculiar. Eu procurava manter a tangente do percurso, observando a lenta aproximação com o Marco. Estava com um certo receio de alcança-lo, pois ele poderia aumentar o ritmo para uma velocidade que não seria interessante para mim. Levei alguns quilômetros até decidir que estava no momento de emparelhar. A essas alturas estávamos entre os km 11 e 12.

Cumprimentei o colega, e a partir dali passamos a correr juntos. Passamos a fazer uma média um pouco mais veloz que 5:40/Km. Eu estava me sentindo bem e sabia que tudo estava favorável. Sabia que já tinha treinado naquelas situações, e não estava fazendo nenhuma loucura. Em alguns momentos o Marco me alertava para darmos uma maneirada, mas eu não estava preocupado em poupar, já que para mim era aceitável fazer um final mais lento.
Passamos a meia maratona sub-2h. Àquelas alturas eu sabia que se mantivesse aquela média poderia fechar a prova sub-4h. Mesmo assim, ainda era muito cedo para esse tipo de projeção. Tinha muito chão pela frente.
Há um certo tempo atrás, provavelmente mais de um ano, eu estava conversando com o Hideaki e afirmei com todas as letras que, na minha avaliação, eu provavelmente nunca faria uma maratona sub-4h. Foi uma avaliação realista. Eu imaginava que mesmo com todas as condições favoráveis, não seria possível eu fazer duas meias sub-2h direto, sem intervalo.
A mesma afirmação eu repeti para o Beto minutos antes da largada, quando ele previu que eu fecharia em menos de 4 horas. Eu disse que era praticamente impossível um sub-4h, mas parece que meu amigo tem mais fé que eu rsrs.

Voltando à prova, eu estava me sentindo bem. Correndo com o Marco, em alguns pontos nós víamos a esposa dele, a Luciana, que tinha largado 15 minutos antes. Logo nós a alcançaríamos, e isso aconteceu por volta do km 27. Nesse momento o Marco deu uma esticada, acelerando o ritmo para alcançá-la, enquanto eu mantive o meu e acabei ficando uns 20 metros para trás.
Eu imaginei que ele conversaria com ela e esperaria por mim. Mas depois de alcançá-la e conversar, ele voltou ao seu ritmo e eu acabei ficando para trás. Normal. Cada um faz a sua corrida, e eu tinha consciência da minha. Mas de certa forma isso me pareceu uma quebra de contrato não formal.
Cerca de 1 km à frente eu votei a emparelhar com ele, mas resolvi apertar o passo. Ele voltou a pedir prudência, mas eu avisei que a partir dali eu faria algumas parciais fora do padrão. Além de retribuir a esticada anterior, eu também queria avaliar como estavam as minhas condições, verificar se conseguiria manter um ritmo forte no final, e ganhar alguns segundos de gordura para um possível sub-4h. Estávamos nos aproximando do km 30, e já não faltava tanto para o fim. Senti que estava motivado e que poderia correr um certo risco controlado. Acabei abrindo uma distância do Marco, e rodei a cerca de 5:25/Km até o km 34. Nesse trecho de ritmo mais intenso eu já tinha decidido que tentaria a marca antes “impossível”. Faltavam cerca de 10Km para a chegada e eu sentia que, a essas alturas, já seria possível alcança-la. Passei muitos corredores que antes iam no mesmo ritmo que eu. Eu estava com “sangue nos olhos”, concentrado, focado, determinado e feliz.

Pouco depois do km 30 ingeri meu quarto sachê de Exceed Gel, tomei Gatorade e segui em frente. Faltando 9km o percurso faz um retorno para beirarmos o rio Guaíba, e logo em seguida consegui ver o Marco na via paralela, permitindo que eu tivesse uma noção mais clara da distância que abri em relação a ele. Nesse trecho de retorno, percebi que uma sombra me acompanhava. Como tinha acabado de ver o Marco, sabia que não era ele. Eu ia no meu ritmo “faca nos dentes”, e não me incomodei com o outro corredor na minha cola. Tentei manter o mesmo passo, sem acelerar nem diminuir. O cara ficou um longo trecho no meu calcanhar. Até quando eu desviava de corredores mais lentos ele continuava no vácuo. De certa forma isso até me motivou, e não incomodou.

Depois do km 34 começou a bater um pouco de cansaço, e comecei a fazer as contas de que, se mantivesse uma média de 6:00/Km ainda daria sub-4h. Fiz 5:37, 5:40, 5:47, 5:46, 5:50, nitidamente diminuindo o ritmo e mantendo um tempo aceitável para o sub-4h. O colega que tinha me acompanhado finalmente me passou. Conversamos um pouco e ele continuou forte. Infelizmente comecei a sentir que meu estômago estava começando a se manifestar, o que me levou a tomar a decisão de não tomar mais Gatorade, nem água, nem gel. Nesse final de prova, aquela avenida ao lado do estádio do Beira Rio parece uma subida sem fim. Dá para perceber que a inclinação é mínima, se é que existe, mas àquelas alturas qualquer degrauzinho parece uma muralha.
Entre os km 40 e 41 senti um mal estar mais forte, uma ânsia de vômito que foi aumentando até ficar quase insuportável. Por conta desse mal estar, acabei "parando" (ou seja, andei por alguns segundos) para me recuperar. Mas não perdi a tranquilidade, pois já estava preparado para isso, e consegui me recuperar rapidamente sem comprometer em nada. Esta parcial foi, obviamente, minha pior: 6:23. Mas a recuperação foi excelente e fiz o último quilômetro cheio em 5:47, fechando a maratona oficialmente com o tempo líquido de 3:57:18.

Na região da chegada estavam a Daniela e João Vitor, esposa e filho do Beto, e o Tiago, irmão dele. Ainda consegui fazer uma pequena festinha para eles, mas eu já estava bem cansado e nem consegui fazer uma chegada muito forte ou animada. Mesmo assim, fiquei muito feliz pela grande marca conquistada. O único problema era o cansaço mesmo. Algumas pequenas dores também se manifestaram durante a prova e depois da chegada, mas nada que mereça um registro específico.
A hidratação durante a prova estava presente com muita frequência. Eu sempre procurava tomar um gole em todos os postos, exceto quando eram muito perto, normalmente após o Gatorade. Após a chegada eu peguei uma garrafinha de isotônico, mas fui tomando bem devagar porque estava um pouco preocupado se iria cair bem. A organização disponibilizou várias frutas e água para os corredores que finalizavam a prova.
Voltei à região da chegada e conversei um pouco com o pessoal, mas logo já comecei a me organizar para retornar ao hotel. Após uma pausa em um banquinho da região, peguei meu agasalho no guarda-volumes e me dirigi ao local das vans. Não demorou muito para lotarmos o fretado, de forma que cheguei ao hotel com uma boa folga de tempo antes de sair para o aeroporto. O banho de ducha foi ótimo para a recuperação. Tomei uma coca 600ml com M&M e logo já estava me sentindo recuperado.

Infelizmente não pude usar o transporte entre o hotel e o aeroporto, pois o primeiro horário era 15h e isso daria problema para o meu embarque.
Já no aeroporto fui providenciar meu “almoço” no Mc Donald’s, com direito a derrubar a bandeja no meio do saguão rsrs. Contabilizando os 700ml da nova coca-cola, fiquei com um saldo de mais de 1 litro de refrigerante, sem contar o Gatorade e um monte de água que fui bebendo de tempos em tempos. Realmente eu estava precisando repor uma quantidade razoável de líquidos.
Voando pelo céu entre Porto Alegre e Guarulhos, com escala em Florianópolis, fui ouvindo música gospel e agradecendo a Deus pela alegria que Ele me proporcionou nesse fim de semana. Em todos os aspectos deu tudo certo, foi tudo perfeito, e este realmente era meu dia. Deus resolveu me dar um presente e disse: "Fabão, hoje vai dar tudo certo pra você". Valeu, Deus, você é demais!
Certamente esse resultado também é fruto de muito treino e experiência adquirida ao longo dos anos. Agradeço também ao incentivo de tanta gente que se manifestou de várias formas. As informações compartilhadas no fórum Runner Brasil e internet em geral também ajudaram muito. A organização também tem sua parcela de "culpa" nessa vitória.
Agora vou tirar alguns dias de folga, provavelmente umas duas semanas de atividades bem leves, e depois volto a planejar o próximo desafio, que será em janeiro.
Minha marcação pessoal (marcação a cada 3Km nas placas, que na maioria das vezes não batia com o GPS)
1- 17.00 (3Km)
2- 16.33 (6Km)
3- 16.13 (9Km)
4- 16.15 (12Km)
5- 17.31 (15Km - 1:23.31)
6- 17.02 (18Km)
7- 16.52 (21Km - 1:57.26)
8- 17.01 (24Km)
9- 17.00 (27Km)
10- 16.22 (30Km - 2:47.49)
11- 16.44 (33Km)
12- 16.13 (36Km)
13- 17.15 (39Km)
14- 19.17 (42,2Km - 3:57.17)

GPS: http://www.endomondo.com/workouts/204076615/8052989