quinta-feira, 6 de agosto de 2015

26/07/2015 - Maratona do Rio de Janeiro

Em janeiro (2015) eu estava de férias e, num momento de devaneio, avaliei a possibilidade de correr a maratona do Rio de Janeiro em julho.
Imaginei que, um ano antes das Olimpíadas, muito das obras estaria já bem encaminhado.
Imaginei que em 2016 seria mais complicado de correr no Rio. Provavelmente mudariam a época da prova, para não concorrer com os Jogos. Haveria mais procura pelas inscrições, talvez os preços fossem mais salgados.
Fiz minha inscrição para o RJ no mesmo dia em que me inscrevi para SP. Eu usaria a prova paulista como "teste". Não como "treino de luxo". Eu faria SP com seriedade, mas tranquilo, sabendo que ainda poderia melhorar para o RJ.
Fechei o pacote de viagem com corrida, transporte e hospedagem, pela primeira vez contratando a Equipe Tavares. Segundo meus contatos, ouvi ótimas avaliações sobre eles.
Então veio a parte mais trabalhosa: treinar. A meta era fazer bastante rodagem, na casa de 60km por semana, ou mais. Basicamente, eu treinava às 2as, 4as e 5as na pistinha, e sábado era treino longo na Via Parque.
Faltando uns dois ou três meses para a maratona de SP, senti umas dores chatas no joelho. Acho que foi por causa da minha tentativa de mudar a passada para algo mais veloz.
Reduzi a intensidade dos treinos sem diminuir a quilometragem, adicionando mais um dia da semana para diluir a rodagem de cada sessão, e diminuindo o ritmo para não forçar o joelho. Funcionou.
Apesar de não ter feito um tempo bom em SP, senti que estava bem preparado. O que eu precisava acertar era fazer alguma coisa para não passar mal como aconteceu em maio.
A princípio, achei que o mal estar foi porque fiquei desidratado. Cheguei a essa conclusão porque perdi 5kg na prova, mesmo tomando água em praticamente todos os postos.
Para tentar resolver esse problema, passei a tomar bastante água nos treinos. Nos dias úteis, quando corria na pistinha, levava uma garrafa e bebia a cada um quilômetro. Quando ia pela Via Parque, levava uma mochila com uma ou duas caramanholas, e também bebia a cada 1km.
Dessa forma, fiquei acostumado a beber bastante água. Quando sentia que a água estava "conversando" na barriga, reduzia o ritmo até melhorar.
O ritmo dos treinos estava razoável, nem rápido nem lento. Tracei a meta de fechar a prova em 4h15 (a rigor, tentaria a média de 6min/km, que dá um pouco acima de 4h13, mas arredondei para 4h15).
Quase tive uma surpresa faltando 3 semanas para a prova, quando a EC Tavares me avisou que o sistema deles estava apontando que minha inscrição era para a meia maratona de agosto. Fiquei um pouco preocupado, mas eles conseguiram resolver sem problemas.

Graças a Deus, nenhum problema relevante até a prova. Fui pro Rio bem confiante. A previsão do tempo indicava que domingo seria nublado. Não frio, mas também sem Sol torrando o coco.
A viagem com a EC Tavares foi tranquila. Fui de avião, para evitar um trajeto cansativo de ônibus. Do aeroporto para o hotel tivemos um pequeno contratempo, mas no fim deu tudo certo.
Ao aterrizarmos estava chovendo, mas meia hora após chegarmos ao hotel (Windsor Flórida) abriu um Sol consistente. Alguns da turma (pessoal que estava viajando junto, pela EC Tavares) resolvemos ir até a Expo para ver a feira. Minha ideia era comprar alguma camiseta da prova, pois a que vinha no kit era regata, e eu quase nunca uso regata.
Pegamos o metrô na estação Catete, bem perto do hotel, e descemos na Estácio. A Expo era logo ali, mas estava lotada e a feira não tinha o que eu queria.
Resolvi aproveitar o tempo para ir ao Pão de Açúcar. Me informei sobre como ir até lá e peguei novamente o metrô, até a estação Botafogo.
Como já estava na hora do almoço, procurei um lugar para comer por ali e, em seguida, me dirigi ao ponto de ônibus para ir até a Urca.
Chegando no ponto, o fiscal informou que o ônibus poderia demorar 15 minutos. Ou meia hora, talvez. Resolvi não correr o risco e peguei um táxi.
O motorista era perdido ou mal intencionado, pois parecia não saber o caminho, dando uma volta e retornando ao ponto onde eu havia embarcado. Liguei o Waze e comecei, acredite, a indicar o caminho para o figura. Depois ele deu um desconto na tarifa, mas foi uma situação ridícula.

Ao chegar na base do bondinho, a funcionária informou que a fila para comprar ingresso era de 20 minutos. Levei 40 para chegar ao caixa, mais uns 15 para embarcar. Mas, como já estava ali, não ia desistir por isso.
O problema mais sério foi que, logo que começamos a subir, voltou a chover. Ao chegar no meio do caminho, fui ver que a fila para a segunda perna era gigantesca. Já eram 14:30, e eu precisava estar no hotel às 14h para pegar o kit da corrida. Acabei desistindo de subir a segunda etapa. Paciência.
Voltei para o hotel, peguei o kit com o Luis Tavares e o Kyoji, e passei o resto da tarde descansando.
A vontade de dormir era grande, pois eu tinha acordado bem cedo para ir até a casa dos meus pais, e dali para o aeroporto. Mas, se eu dormisse à tarde, à noite ficaria sem sono.
Resisti bravamente, assistindo à conquista do ouro panamericano pela equipe brasileira de basquete (Jogos Panamericanos de Toronto 2015, no Canadá).
Para jantar, fui à pé até a Dominos e comprei uma pizza de mussarela. Comi no hotel mesmo, depois arrumei minhas coisas para a corrida e fui dormir.
O sono que eu tive à tarde tinha ido embora, mas não me preocupei muito, pois sei que ansiedade pré-prova não ajuda em nada. Consegui descansar satisfatoriamente, e às 3:45 acordei para o domingo.
O café da manhã seria servido às 4:30, e o ônibus sairia para a largada às 4:55. Achei meio apertada essa janela para o café da manhã, e por isso desci para o lobby umas 4:10.
Já havia alguns corredores por ali, e fiquei conversando perto da porta do refeitório. A área da recepção começou a ficar lotada, conforme os atletas iam chegando, e nada da porta abrir.
Às 4:30 efetivamente liberaram a entrada para o café da manhã, e consegui me posicionar entre os primeiros. Parecia largada de corrida rs. Mas foi tudo organizado e tranquilo. Peguei suco de laranja, pão francês, queijo e presunto. Quem chegou depois teve que enfrentar fila. Mas eu comi rápido e ainda consegui passar no quarto para escovar os dentes e pegar o que precisava.

O pessoal recomendou levar algum dinheiro para o caso de precisar usar o banheiro de algum dos postos que ficam ao longo das praias. Levei, mas não precisei usar.
Desci para a recepção e, quando o ônibus chegou, embarquei. Ainda atrasamos a saída uns minutos pois havia alguns retardatários (atrasados).
Apesar de alguns erros no percurso, o motorista acabou conseguindo chegar às largadas da meia e da maratona, ambas em horários aceitáveis.
Na área de largada, avaliei que o clima estava nublado o suficiente para correr sem boné. Deixei o moletom e o boné no guarda volumes e aguardei o início da prova.
Alguns pensamentos, lembrando o quanto treinei, e lembrando de pessoas importantes para mim, pessoas que me inspiram e me fortalecem, quase me deixaram emocionado. Me concentrei no básico, para não atrapalhar na corrida.
E bora correr.

Larguei numa área boa, nem muito na frente, nem muito atrás. A primeira rua é meio estreita em relação à quantidade de corredores. Fui tranquilo, não me preocupando com o ritmo. Vi alguns tombos de corredores apressados que tentavam passar por vias alternativas (calçada).
Fazemos uma pequena volta de uns 3km e passamos novamente pela largada, no sentido oposto, e então começamos um longo trecho de uns 15km de praia direto.
A largada é na Praça do Pontal Tim Maia, no Recreio dos Bandeirantes.
O clima estava nublado, temperatuna na casa de 20°C, umidade alta e vento imperceptível. Não achei o visual tão lindo e maravilhoso como costumam descrever essa prova, mas para mim isso não era tão importante.
Fui tentando controlar o ritmo no passo que eu tinha planejado. Havia duas opções basicamente: eu dividi a prova em 3 trechos de 14km, e poderia começar com 5:50/km no primeiro, depois fazer 6:00/km no segundo, e 6:10/km do último. A outra opção seria também começar com 5:50/km, manter abaixo de 6:00/km no segundo trecho, e tentar manter perto (provavelmente um pouco acima) de 6:00 no fim, gastando a "gordura" acumulada.
A primeira metade da prova é completamente plana. Só não foi monótona porque eu estava concentrado e controlando bem a corrida. Passei a meia maratona com 2h01, bem tranquilo, uma média perto de 5:40/km.

Logo à frente, entre os km 22 e 23, começa a primeira subida da prova. Eu já sabia e estava preparado para ela. Reduzi o ritmo só um pouco e mantive a concentração, encarando a ladeira até com uma certa facilidade. Em um dos túneis desse trecho, onde tinha música eletrônica (bem alta) e iluminação de discoteca, tive que tomar cuidado para não empolgar e acabar acelerando. Consegui segurar a onda e mantive o passo tranquilo.
Como já era esperado, os túneis fizeram a marcação do GPS indicar a distância errada, mas aparentemente a marcação de solo estava correta, fora uma ou outra placa meio fora do lugar.
A quantidade de pessoas nas praias, até aquele momento, era pequena, pois eram praias menos badaladas, e o horário também ainda era meio cedo para um domingo de manhã. Ainda mais, no caso, um domingo nublado.
Lá pelo km 27 ou 28 veio a subida na Niemeyer. Uma subida não muito íngreme, mas longa. Em certa altura, parece que a subida vai acabar numa curva, mas depois descobrimos que tem mais um pouco de ladeira. Eu já tinha ouvido falar dessa pegadinha, mas na hora não lembrei, e tampouco sofri com isso.
Após a descida, passamos pelo km 30 e chegamos ao Leblon. O cenário bem diferente, com muito mais gente, pessoas assistindo à prova, outros apenas passeando, muita gente aproveitando a praia.
Passei pela "zona de muro" bem tranquilo, com o ritmo controlado, e uma expectativa de fechar a prova abaixo das 4h15. Claro que já sentia um certo cansaço, mas nada crítico, e sem dores relevantes.
Eu estava tomando bastante água, conforme planejado. Não era de um em um quilômetro como nos treinos, mas pegava um copo em cada um dos postos onde distribuíam, e tomava todo conteúdo. Também tomei Gatorade em quase todos postos onde havia.
Mesmo assim, o mal estar que senti na altura dos 24km da maratona de SP, desta vez me pegou no km 34. Começou leve, e ignorei o quanto pude, mas num determinado momento acabei cedendo e andei para ver se melhorava.

Acabei aproveitando a "pausa" para tomar mais água e gel carboidrato. Infelizmente, do jeito que desceu, voltou. Que droga! Isso realmente me deixa chateado. É uma coisa que ainda preciso melhorar. Preciso resolver isso.
Mas, paciência. Faltava pouco para o final. Menos de 8km.
Fui alternando trote e caminhada. Senti o mal estar mais algumas vezes, e o ritmo foi pro beleléu.
Analisando esse episódio alguns dias após a prova, fico me questionando se realmente não dava para continuar sem andar, ainda que lento. A resposta, após uma boa análise, é que eu efetivamente tentei fazer isso (voltar mais lento), mas não deu. Preciso resolver esse problema que já tive várias vezes.
De uma forma ou de outra, continuei em direção à chegada. Quando já estava bem perto, faltando uns 500 metros, o público que estava torcendo nas laterais começou a afunilar a pista, e a galera estava extremamente empolgada. O incentivo não era o tradicional "vamos, falta pouco, está chegando". Os cara gritavam, berravam. Era contagiante, não tinha como não sentir a força.

Eu já vinha no meu trotinho para a chegada, mas a gritaria era tanta que acabei me empolgando e fiquei animado. Todo esse trecho foi de gritaria e barulho. Muito legal essa experiência. Parecia que eu estava ganhando a competição. Nunca vi nada parecido em todas as provas que participei. Esses últimos 500 metros valeram pelos 42km da corrida.
Ao cruzar a linha de chegada, finalmente consegui expressar uma comemoração digna de quem completa uma prova tão dura. Vibrei muito e gritei com toda minha força.

Pronto, acabou.
Tempo final: 4h23:45
Infelizmente foi acima do que eu gostaria, mas é um bom resultado. Tenho que valorizar essa conquista, ainda que abaixo do planejado. No fim das contas, foram apenas 9 minutos a mais. E também vale à pena verificar que, até faltarem 8km, eu estava num ritmo muito bom, e estava me sentindo bem. Agora é manter o que está bom e melhorar o que está ruim.
Fechada a prova, imediatamente informei meus pais e minhas mulheres via whatsapp. Pedi para um staff fotografar-me com o Pão de Açúcar ao fundo. Com a foto, postei o resultado no Endomondo e Facebook. Não adianta correr 42km e não divulgar kkk

Peguei meu pacote no guarda volumes e me dirigi ao hotel, que ficava cerca de 1km (parecia mais) dali. Uma caminhada meio melancólica por conta do cansaço. Pelo menos deu para eu ir tomando água e Gatorade aos poucos, sem sentir o mal estar.
Informado que a chave do quarto tinha expirado ao meio dia, passei na recepção para regularizar o cartão. Subi ao quarto e tomei um banho maravilhoso, com uma ducha extra forte revigorante.
Não consegui dormir, mas fiquei deitado e descansando por cerca de uma hora.
Era pouco mais de 14h quando desci à recepção para o checkout. Já havia uma fila, mas após 20 minutos já estava sentado, aguardando o ônibus para o aeroporto.
O caminho até o Santos Dumont foi meio estranho, mas chegamos ao destino com bastante tempo. Fui procurar alguma loja de souvenires, para levar alguma lembrancinha para minhas meninas e pais.
Depois, comprei um iogurte gelado grande, para servir de pseudo almoço. A recuperação pós prova foi satisfatória, sem problemas.

Meu assento no avião foi "mais conforto", com espaço extra. Originalmente eu havia reservado o 7D, no corredor. Logo após me acomodar, chegou um casal e sentou no 7E (ao meu lado) e 7F (na janela). Mais tarde, uma comissária de bordo questionou o casal, pois o 7E deveria ficar vazio por conta do "conforto". Eu disse que tudo bem, mas acabei concordando em ficar no 7A (janela esquerda), que era a reserva do homem que estava no 7E. Todos felizes, voltei na janelinha rs
A emoção que eu estava sentindo era estranha. O sentimento era de uma certa tristeza de não ter conseguido o tempo esperado. A razão, por outro lado, avaliava que tinha sido uma boa prova, sem problemas graves, e o tempo final não foi ruim. Deus me abençoou, me protegeu, me capacitou. Eu estava grato por essa experiência tremenda. Ainda que a emoção fosse de chateação, a razão dava o devido valor ao fim de semana.
Em Congonhas, ao desembarcar, despedi-me da turma e fui encontrar meus pais, que foram me pegar. Agradeci pela ajuda e apoio logístico, e voltei para casa, onde pude relatar os acontecimentos às minhas princesas.
Essa foi minha sétima maratona completada. Ainda não tenho planos de qual será a próxima. Tenho algumas opções, mas antes de decidir preciso resolver outros assuntos.

GPS:
https://www.endomondo.com/users/8052989/workouts/568766042
https://www.strava.com/activities/355050545

Parciais:

17.48 (3km)
16.55 (6km)
17.22 (9km)
17.04 (12km)
16.50 (15km) (1:25.59)
17.41 (18km)
17.27 (21km) (2:01.07)
17.34 (24km)
17.12 (27km)
18.36 (30km) (2:54.29)
18.09 (33km)
25.12 (36km)
20.47 (39km)
25.08 (42,2km)

4:23.46 (total)

Notas:
- Minha experiência com a EC Tavares foi satisfatória. Não foi tão perfeito como eu imaginava, mas o pessoal conseguiu resolver os pequenos problemas que apareceram. Não tenho o que reclamar. Acho que eles podem melhorar o serviço, mas o que oferecem atualmente já é aceitável. Se alguém perguntar se recomendo, minha resposta é: sim, sem medo. Se pretendo voltar a usar o serviço dessa empresa? Sim, pretendo, sem ressalvas.
- O hotel é bem legal. Alto padrão, confortável, restaurante bom, localização perto da chegada e do aeroporto. Nota dez.

ua

2 comentários:

Ivo Cantor corre e conta disse...

Muito bem, Fábio. Vejo-me quilômetro a quilômetro junto com você nesta prova. Sua descrição corresponde - acredito - a que meio mundo sente. Não tenho essa dificuldade adicional com a reposição energética, sempre tem funcionado bem. Chego moído, cansado, travando mas dando um pique forte final às custas da vibração que vem dos gradís. A torcida do Rio é sensacional : fiquei o tempo todo na placa do 42 e a turma não parou de gritar desde que passou o primeiro lugar. A angústia que começa ao meio dia do sábado e só termina no tiro de largada não tem igual. Não fosse isso eu daria nota 10 para toda e qualquer maratona. Parabéns por mas uma gigante concluida e até breve. Como diz o Tomaz Loureço da Contra Relógio, a gente se vê por aí nas corridas.

Fabão disse...

Valeu, Ivo.
Pena não ter te visto por lá.
Esse problema que venho observando ainda está obscuro para mim. Acho que preciso treinar mais.
Já reparei que em temperaturas mais amenas, o problema diminui ou some.
Não sei nem qual especialidade consultar.
Mas, vamos em frente.
Já me inscrevi para a maratona de SP em abril kkkk
ua
Fabão